SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO


Acabo de comer um pedaço imenso de mamão. O que isso tem a ver com você? Bom... talvez, nada. Mas para mim é uma reflexão sobremaneira importante. Seu valor nutritivo e seu poder medicinal agora me possuem, ou melhor, são por mim possuídos. Meu organismo é outro. Neste momento em que “dialogo” com você, caro leitor, as substâncias do fruto do mamoeiro estão
sendo disseminadas pelo meu corpo. Antes disso, sua doçura e maciez acariciaram meu palato. Não sinto, mas sei que seus nutrientes se espalham por mim. É tão banal, pela repetição do ato; e tão inacreditável, pela invisibilidade de sua ação, que vacilo sobre a importância deste pensamento. Meu corpo era outro antes de o mamão fazer parte dele. E foi um bom bocado. Sou neste instante a síntese de mim mais o mamão. Cálcio, Fósforo, Ferro, Sódio e Potássio: seus minerais me conquistam. E, além de tudo, é pouco calórico. Se foi um papaia? Que importa? Mas estava sim muito saboroso. Até seu sabor me é. Não foi qualquer outro alimento que me despertou tais cogitações. Foi o mamão. Se somos, realmente, o que comemos, neste momento, sinto-me apenas um mamão... acho que o formosa.

Nívia Maria Vasconcellos